Nosso Toby viveu, no mínimo, 18 anos. Não sabemos exatamente a data do seu nascimento, mas ele chegou lá em casa em 2005, na caixinha da moto do meu avô, que jurava que ele era um pequinês (viranês? Tombanês?)
Vocês me perdoem, mas o Toby era o boto cor de rosa dos cachorros. Malandro, conquistador, sem vergonha. Tinha filhotes por toda região, inegáveis pois eram a cara do pai. Tentamos prender mil vezes, mas, quando víamos, lá estava ele, nas ruas. De lá que ele veio. Não havia cachorro que soubesse andar melhor na rua do que ele: sabia esperar sinaleiros, atravessava no lugar certo, andava somente em lugares que ele sabia que não levaria coça da gangue-matilha vizinha. Era a má companhia na certa, mas era aquele tipo de amigo que todo mundo tem: aquele vida loka que a mãe de todo mundo adorava, que chegava pra janta e era tratado como da família. Uma vez descobrimos que ele sumia toda noite porque ia filar boia na casa de uma senhora umas ruas pra cima da nossa (sim, ele jantava em casa também, mas não era bobo de perder outra janta). Ah, claro, ele teve filho lá também e a filha dele partiu antes dele. Teve outra vez que juramos que ele tinha juntado as patinhas, cheguei a vê-lo na rua e tudo. Mas ele voltou, estávamos no meio de uma reforma e o tio Eloi gritou: “olha lá o Tobinho!!” E trouxe ele no colo.
Não nos achem donos relapsos, mas o Toby era imparável. Sério. Totalmente o contrário do Frederico, que sente arrepios ao pensar em socializar, Toby era pura simpatia, sendo até parceiro pra ir até o ponto de ônibus com as pessoas e, quando o busão chegava, ele voltava embora pra casa. Todo dia. Quase um segurança particular, o verdadeiro amigo do homem mesmo. Seja dono dele ou não.
Eu gostava de fazer tudo a pé quando era adolescente e morava com a minha mãe. Foram várias as vezes que ele me acompanhou na farmácia comprar descolorante pra loucuras capilares ou no Kusma (hoje Araucária) comprar pão pro café da tarde. Toby sempre foi companheiro e, além de simpático, muito amoroso. Não era do feitio dele morder, nem oferecer ameaça. Era a prova viva do “onde não puderes amar, não te demores”, da Frida, pois se você oferecesse carinho, ele ficaria lá por mil anos recebendo afago nos seus pelos. Mas, se não dessem bola, ele nem tchum. Um cachorro muito bem resolvido.
Um dia, já beirando os 10 anos, parou de ir pra rua. Já estava meio cego, meio surdo e resolveu se aposentar. Pra quê ficar de loucura? Em casa tinha água, comida, dormia dentro de casa com uma cobertinha quentinha (eventualmente pegando a do Frederico, que não se conformava). Continuou assim com a vida até que mais sinais da velhice canina apareceram: demência foi um deles. Do nada, sentava do nosso lado e gritava “AU”, fazendo eu e minha irmã nos unirmos num uníssono “TOBY!”. Com o tempo, audição e visão pioraram, junto com problemas de esquecimento e demência, o fazendo não diferenciar muito o que era dia e noite; aí ele andava pela casa fazendo tec tec tec 2h da manhã, igualzinho uma assombração canina, mas era o Toby. Por fim, dificuldades pra se locomover. Pra um cachorro tão ativo, a gente entende que a velhice é um caos. Mas ele não reclamava, dormia mais de 20h, levantava, comia, tomava água, se perdia na plantação de abóbora (eventualmente precisávamos resgatar na floresta), gritava AU e voltava. Foram 18 anos que, arrisco dizer, foram felizes e cheios de aventuras pra um vira lata caramelo peludinho de 6kg.
Hoje a gente fica muito triste com a partida dele. Perder um cachorrinho é algo dolorido demais. Mas eu espero muito que tenham ruas enormes na nova morada do Toby.
Vá em paz, nosso amado companheiro de tantos anos!