Bernardo Kemer Rodrigues

Meu filho… ainda penso que estou dentro de um pesadelo que está demorando para acabar mas que logo estarei acordada e com você aqui de novo. Ontem, hoje, me sinto como no dia em que me arrancaram você de mim naquela barbárie que fomos obrigados a viver e tivemos o merecimento de vencer! Você, tão pequenino em tamanho, deixou um vazio gigante em nossa casa porque você precisou voltar ao nosso lar; ao nosso lugar de origem! Eu compreendo e aceito tudo isso mas foi um golpe ser você! Apenas 10 aninhos, lindoooo, uma pintura… um narizinho miudinho que só, bem pretinho, uma boquinha que parecia estar sempre sorrindo, suas orelhinhas, pontudinhas, perfeitas desde o nascimento… a Divindade desenhou para mim o ser mais lindo e com a alma mais bela… com apenas 1, 8kg, encantava a todos com seu temperamento forte, decidido, ousado… não admitia um rodo, uma vassoura fora do lugar, paninhos de limpeza pendurados… ficava injuriado e brigava até tudo estar no lugar… tinha uma inimizade enorme com latas de inseticida e Bom Ar… ficava bem louco com uma dessas no chão. Brigava, derrubava no chão, dava uma corridinha de ré e voltava a brigar com e peito estufafinho feito um galinho garnize (aliás, eu vou providenciar um garnize… vai me lembrar muito você e se chamará Deco, de Bernardeco. Vou dar boas risadas como sempre fiz com você. Thobyas Gabriel e você, numa interminável discussão e foi justamente ele quem me implorou para levá-lo na sua última noite e ficou mudo assim como eu ainda estou: emudecida; chocada! Não consigo entender: você não estava doente, estava aqui, de repente internado, mais de repente ainda, na UTI, e em poucas horas longe de seu corpinho maravilhoso que te permitiu saltitar, correr, levitar! Você sempre foi livre mas nunca ficou longe de mim! Caminhávamos juntos pela praia, pelo gramado, sempre lado a lado pois nós não existiamos sendo eu! Isso é singular, é uma honra, é um privilégio! Você foi o meu sonho de reencontrar a reencarnação de Thamyres, realizado, pois você era todo ela! Minh’alma! Tanto que sua partida foi no dia do aniversário de vida dela aqui na Terra. Você era um bebê; meu bibelot e o peludinho de nossa guardiã e protetora! Você era o meu centro, meu companheiro de aventuras, viagens, shopping, passeios, terapia… você sempre estava escondido no meio da mala, da bolsa ou debaixo de minha roupa para seus irmãozinhos não verem que você tinha suas regalias… por quê? Porque eu te amava mais que os outros? Não sei! Talvez seja ousado e mentiroso dizer que amava a todos igual porque todos somos diferentes! Amamos cada qual de uma forma! Depois de seu sequestro, como você pequininho de tudo foi devolvido a mim maltratado, desnutrido e talvez por um fio de vida, eu realmente te protegia mais do que a qualquer um… mas você foi sempre muito forte! Só se escondia naquela aparência delicada! E se você precisou ir assim, de repente é porque você tinha o merecimento de não sofrer! Obrigada por ter esperado a Deise, e ter partido no colo dela eu te pedi isso em nossos últimos momentos juntos aqui nesta vida e você, como um guerreiro, voltou à consciência e levantou a cabecinha, me dirigiu o olhar e me ouviu dizer em voz alta naquela UTI “eu te amo e é eterno, tá?!”. E é eterno. Não tem como viver com um cão e não amar incondicional e eternamente. Se você ainda não sentiu isso por um anjo de patas, você ainda não viveu!
Eu te agradeço! Eu te amo! Não tenho nada para te perdoar porque o seu único erro foi ter me amado demais, tanto a ponto de sentir o meu peito em carne viva ardendo de tanta dor e saudade! “Se você precisar ir, vá, mas volte! Insista para reencarnar porque eu te acho, e você sabe que eu acho!” – disse a você também em nossa última vez… Bibelot… eu jamais te esquecerei e sim, sei que te prometi ficar bem, mas não prometi não chorar… não murmurar de dor… estamos cuidando do Lico, da Ju e do Thobyas Gabriel bem como cuidaremos até o fim de todos os seus irmãozinhos!
Gratidão pela honra de ter tido você para me chamar, ainda que com o olhar, de mamãe, e eu a você chamar de MEU FILHO.
Te amo! Mais que a mim… e é eterno, tá?!