Quando meus “porquês?” começam a não ter
respostas!
Desde sempre dedicamos no Pet World uma atenção especial às crianças e a suas manifestações diante do luto do amiguinho pet. Realizamos dentro de uma proposta lúdica esse cuidado ao emocional infantil, desde a remoção até o retorno das cinzas, ou mesmo a colocação das cinzas no jardim do amigo que partiu. Em outro momento falaremos deste trabalho, como também de nosso link Estrela-Guia que têm auxiliado muito as famílias a tratar com atenção deste momento sensível e complexo de ser explicado.
Imagem por Reinhardi de Pixabay
Com a palavra, nossa amiga e psicóloga Fabiana Witthoeft, especialista em Luto, esclarece um pouquinho a mente infantil diante da perda e nos orienta a tornar este momento mais leve.
Na minha infância, nunca compreendi muito bem essa coisa de rituais fúnebres. Sem compreensão, frente àquilo que eu desconhecia e que muitas vezes me evitavam. Assustadora parecia a ideia de ver as pessoas que eu amava e convivia chorando inconsoláveis, como se tivessem se machucado feio no pátio da escola. Aparentemente, aquele machucado nunca iria sarar. E depois então, colocavam aquele alguém que a gente muitas vezes já sentou no colo numa tarde de domingo, embaixo da terra dentro de uma caixa esquisita. Depois de um tempo, eu percebia que depois daquele momento, aquelas pessoas não eram mais vistas entre nós. Por algumas vezes, achei que elas ficassem naquele lugar temporariamente, e esperava que voltassem. Mas nunca retornavam.
Perdemos nosso primeiro amigo de quatro patas quando eu tinha 7 anos e senti a realidade da morte me atingindo em doses homeopáticas, pois em momentos paralelos, vivenciava o estranhamento da perda e retornava a brincar, esquecendo que ele havia partido. Mas quando o estranhamento ou a sensação de tristeza me tomavam, não sabia exatamente por qual via extravasar. Talvez tivesse sido importante que as pessoas ao meu redor pudessem não tornar aquele assunto um tabu, e me encorajassem a falar sobre meus sentimentos e pensamentos sobre meu querido amigo.
Fui aos poucos perdendo as impressões sobre infinitos, mesmo que os adultos acreditassem que esta partida pudesse não ser compreendida por mim, e que por vezes não precisasse lidar com ela. Não me recordo muito bem de minha reação à perda de nosso amigo, mas me recordo prontamente que outras crianças próximas a mim, apresentavam mudanças bruscas de comportamento, como infantilização, pesadelos, ansiedade, desinteresse por coisas que anteriormente gostavam, transtornos alimentares e até mesmo depressão. Se para nós adultos, já é tão difícil externalizar e definir esta dor, imagine para as crianças?
Com o passar dos anos, também compreendi a importância sobre meus pais e demais familiares manterem fotografias e memórias de nosso amigo a minha disposição, porque relembrar o passado, tornou meus dias futuros mais possíveis e reais. Mas diante de todo o cenário, havia uma indagação que já me aprisionava já bem pequenininha: “o que acontece depois que morremos?” Enfim, hoje compreendo que seja natural não ter estas respostas, que eu tanto queria quando criança.
Que seja muito provável que eu só consiga descobrir, quando passar para o lado de lá. Lado este que independentemente das suas crenças, possa ser um novo mundo, um céu azul, ou um punhado de terra que fará a minha flor deixada aqui manter-se viva. Hoje me lembro do nosso amigo de quatro patas levando no coração a sensação de infinito que eu tinha lá na infância, antes de entender que nada é para sempre, a não ser os vazios que vão se ressignificando de acordo com tudo aquilo que vai se despedindo dos nossos caminhos…
Um grande abraço!
Psicóloga Fabiana Witthoeft- CRP 08/08741