O projeto Psicopet trata de forma humanizada e carinhosa da dor das famílias de pet, e propõe sempre pensamentos de cura e bem-estar aos que passam por esta situação. Confira o texto de hoje junto de seus queridos.
A perda de um pet de uma família sentada à sala de estar…
“…Já passa das 15h00 e alguns de nós em silêncio, permanecemos sentados no sofá da sala respirando tensão e medo. O telefone toca e minha mãe se antecipa da cozinha com passos largos, para nos impedir de atender a ligação antes dela. Em breves movimentos faciais e olhares, percebi ali que não havia mais dúvidas… A cirurgia de risco havia levado nossa Kyra. Mamãe ao desligar o telefone, apenas nos olhou com lágrimas silenciosas e balançou a cabeça negativamente, retornando devagar à cozinha e por lá permaneceu por quase meia hora a observar o quintal. Fiquei imóvel no sofá como se um peso me comprimisse os ombros e cabeça. Minha irmã iniciou um choro alto e compulsivo como se estivesse a espancando. Minha avó que mora conosco levantou-se para nos abraçar e nos sussurrou: “queridos, a vida é assim!”. Meu pai logo chegou do trabalho e minha mãe o colocou a par dos acontecimentos. Ele passou pela sala e apenas pediu para que minha irmã se acalmasse e parasse de chorar. Imediatamente iniciou o recolhimento de pertences de Kyra para colocar em um saco de lixo e levar para fora. Minha irmã ainda descontrolada, puxou da mão dele uma bolinha na qual ela brincava e levou para seu quarto. Minha mãe o disse com a voz trêmula, que não havia necessidade de fazer aquilo naquele momento. Continuei imóvel no sofá, sem nenhuma reação. E minha avó pediu calma a todos. Após o jantar tínhamos o costume de sentarmos todos na sala de estar para assistir o noticiário, mas naquela noite minha irmã permaneceu no quarto. Minha mãe então iniciou a discussão sobre o que faríamos com o corpo de Kyra…Meu pai rapidamente indagou: “Temos que fazer alguma coisa? Não dá pra simplesmente deixar lá no hospital veterinário, e eles dão um jeito?” Minha mãe então o olhou com reprovação e quis dar minha opinião pessoal, mas o peso já ocupava minha boca, também. Minha avó simplesmente já cochilava sentada no sofá. E aí uma grande discussão se iniciou entre eles, pois minha mãe tinha grande amor por Kyra, assim como eu e minha irmã. E logo a baixinha apareceu saindo do quarto e causando mais tensão dentre a situação tão difícil. Entre “enterra, joga no mato, faremos uma cerimônia, alguém dá um jeito”, consegui expulsar o que me prendia ao sofá e fui até a gaveta buscar um folder sobre um lugar que realizava a cremação de animais. Meu pai riu ironicamente sobre a possibilidade, minha irmã novamente saiu da sala e minha mãe resolveu ir em busca de mais informações. Após minha mãe resgatar economias próprias para cremarmos Kyra com o respeito e amor que tínhamos por ela, meu pai se recusou a participar de seu ritual de despedida. Minha avó nos abraçou carinhosamente antes de sairmos de casa, mas não podia perder o último capítulo da novela e disse que nos esperaria com um bolo de fubá. Minha irmã chorava copiosamente. Ao chegarmos a casa, fui para meu quarto e descobri que o que me pesava também era a dor retida no peito, pois talvez tenha chorado mais que minha irmã…”
Diante a perda de um pet, teremos diversificadas reações dentro de uma mesma família. Isso porque cada membro da mesma terá vinculação e apego diferenciado a eles. É necessário que haja compreensões mutuas entre os membros familiares, pois haverá aqueles que sofrerão em demasia e também aqueles que apresentarão indiferença ao falecimento dos animais de estimação. Chegar a um consenso de como, onde e de que forma se estabelecerá um ritual de despedida também pode ser algo difícil de ser administrado enquanto tantas emoções diversas encontram-se no mesmo ambiente familiar. O adequado é que apesar das divergências de sentimentos, possa haver diálogos e definições bastante claras sobre o destino do seu pet, para que não ajam maiores problemas neste momento que se apresenta tão delicado e tenso. O ideal é que este estabelecimento de definições possa ser realizado junto à família antes do momento crítico da perda, para que seus membros estejam menos envoltos na instabilidade emocional que a situação propriamente cria, porém sabemos das nossas dificuldades particulares de discursar sobre a morte antes que ela esteja à sombra de quem amamos. Se você vivencia a perda do seu pet, lembre-se que na maioria das vezes os momentos de luto nos trazem de volta a vida, nos abrindo novos ângulos de visão sobre quem fomos, quem somos e quem podemos ser. A dor necessária muitas vezes cria novos formatos de nós mesmos, e nos permite seguir em frente de maneiras jamais imagináveis. E os passos se renovam… Para a vida e para a morte! É o ciclo de nós mesmos, que amamos e somos amados!
Um grande abraço, Psicóloga Fabiana Witthoeft
CRP 08/08741 | Psicopet
Amparando o luto de animais de estimação.